quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Famalicão ao longo do tempo

Os vestígios históricos sobre a origem do povoamento de Famalicão, levam-nos á Idade do Ferro, mais propriamente a vestígios arqueológicos de castros dispersos por todo o concelho. O Castro do Monte das Ermidas, talvez fundado no século IV a.C., o Castro de São Miguel-o-Anjo ou ainda o Castro de Eiras, são alguns dos vestígios arqueológicos de remotos povoamentos que o concelho dispõe.
No entanto, as origens de Vila Nova de Famalicão remontam mais propriamente ao reinado de D. Sancho I, segundo rei de Portugal, que detinha na zona um reguengo e elaborou, em 1205, uma carta de foral para 40 povoadores dessa terra a fim de criar raízes populacionais na zona. Todo o lucro que os 40 povoadores obtivessem naquele reguengo seriam perpetuamente deles, por direito hereditário, e poderiam vender como seu foro a quem quisessem. Nessa mesma carta foral, o rei manda a povoação que faça uma feira quinzenal, tradição que ainda se mantém semanalmente.

Alguns autores referem que a povoação de Vila Nova de Famalicão já era, no início da nacionalidade portuguesa, sede administrativa e judicial da Terra de Vermoim, da qual herdou o território. Uma lenda que pretende encontrar a origem desconhecida do nome da nossa terra, conta que a personagem Famelião, ao fixar-se aqui, no tempo dos Condes de Barcelos, terá aberto uma taberna conhecida por Venda Nova de Famelião. No entanto, ter-se-á que esperar pelo censo de 1527 para aparecer pela primeira vez a referência a Vila Nova de Famyliquam, embora em 1307 já se fale, nas chancelarias de D. Dinis, em Fhamelicam.
Sendo terra e povoação antiga, Vila Nova de Famalicão, é um concelho moderno, criado em 1835, pela carta de foral da rainha D. Maria II, a qual também lhe restituiu em 1841, o título de "Vila". Fruto da revolução liberal, e também da luta persistente, e da vontade afirmativa de autonomia das suas gentes, que, durante longas décadas, exigiram a sua desanexação de Barcelos, imposta em 1410, pondo fim a séculos de apagamento politico.
A partir de meados do século XIX, depois da refundação do concelho, e com a abertura da estrada Porto-Braga em 1851, e do caminho-de-ferro em 1875, Famalicão entra numa fase de grande desenvolvimento. Constroem-se edifícios públicos, como o Hospital da Misericórdia em 1878, e os Paços do Concelho em 1881, e erguem-se na nova estrada, então Rua Formosa, edifícios luxuosos com capitais vindos do Brasil, de que é exemplo o Palacete Barão da Trovisqueira. E nessa época que começam a instalar-se, na então vila e no concelho, fábricas e oficinas que vão mudar tornar Famalicão, pouco a pouco, centro de uma grande zona comercial e industrial. São os casos da Boa Reguladora (1892), da Tipografia Minerva (1886), e das fábricas têxteis em Riba d'Ave, a primeira das quais em 1890 do Barão da Trovisqueira, e a Sampaio Ferreira, fundada em 1896 por Narciso Ferreira.
Apesar da morte de Camilo Castelo Branco em 1890, floresce na viragem do século, em Famalicão um punhado de escritores, poetas e jornalistas que fundam jornais (Gazeta do Minho - 1882, Gazeta de Famalicão e o Minho - 1884 e Estrela do Minho - 1895), revistas (Alvorada - 1885, e Nova Alvorada - 1891), e editam livros que ainda hoje são marcos na história literária e cultural. Júlio Brandão publica o seu primeiro livro de poemas O Livro de Aglais (1892), enquanto Bernardino Machado, ensina em Coimbra, e aí produz e edita grande parte do seu pensamento pedagógico e político. Alberto Sampaio vai publicando, em revistas, as investigações históricas, realizadas na sua Casa de Boamense, que serão, após a morte, (1908), reunidas nas Vilas do Norte de Portugal, e Póvoas Marítimas. É também, por essa altura, que os poetas Manuel Dias Gonçalves Cerejeira e Sebastião de Carvalho editam, respectivamente, Cinzas (1896) e Rosas da Minha Terra (1915). Por seu lado, o Conde de Arnoso da Casa de Pindela, do grupo dos Vencidos da Vida, publica Azulejos (1886).
As belezas paisagísticas e os miradouros (Monte do Facho, Stª Catarina, Senhor dos Aflitos), assim como, o património arquitectónico construído ao longo de séculos (castros, casas solarengas como a do Vinhal e de Pindela), as pontes românicas (Lagoncinha, S. Veríssimo, Coura e Gravateira), a memória camiliana, onde avulta a Casa de Camilo, as Igrejas românicas, capelas e cruzeiros, (por exemplo, o cruzeiro em granito em Arnoso Stª Maria do séc. XVI), são riquezas inestimáveis que dando dimensão histórica à nossa condição humana, devolvem-nos um sentimento colectivo imperecível de famalicenses e cidadãos do mundo
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